SEGUNDA ÉPOCA

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martes, 25 de junio de 2013

O Grito das Ruas - El grito de las calles - Gilton Ferreira desde el Estado de Espiritu Santo, Brasil

Nuestro amigo y colega sociólogo Giovandro Ferreira nos ha compartido desde Brasil valiosos materiales de análisis acerca de las actuales manifestaciones ciudadanas en Brasil, una realidad social y política que nos parece de alto interés para los lectores de COYUNTURAPOLÍTICA.

He aquí el artículo de Gilton Ferreira, El Grito de las Calles:

"O GRITO DAS RUAS 
Gilton Ferreira[1]

A onda avassaladora de protestos que invadiu o Brasil nos últimos dias, inicialmente motivada pelo aumento nos preços das passagens do transporte coletivo, com manifestações em várias capitais e demais cidades do país e até mesmo do exterior, está desafiando jornalistas, cientistas políticos e os incansáveis analistas do cotidiano.   

Não são poucas as opiniões. Chegam a dizer que o Brasil vive ‘esquizofrenia’ com os protestos, ou seja, uma incoerência, porque há um bom tempo o país vem apresentando melhoria constante em sua economia; tem sido invejado internacionalmente; que muitos jovens estão protestando, mas não fazem uso do transporte coletivo porque já possuem carro e até pouco tempo suas famílias jamais imaginariam que ingressariam em alguma universidade. Faz algum sentido... Mas passa distante da essência.

Longe de qualquer ofensa, mas parafraseando James Carville – estrategista da campanha de Bill Clinton contra o então presidente George H. W. Bush – que em 1992 lançou bordão aproveitando-se de maneira vantajosa da recessão estadunidense, diríamos: Não é a economia, estúpido! 

Os protestos iniciaram como simples manifestação para não pagar uma passagem tão cara e tornaram-se uma mobilização nacional contra os abusos dos governantes com relação à democracia. O grito das ruas nos alerta que podemos ser o país do futebol, mas não precisamos aceitar o preço das obras e ingressos dos estádios; que os fartos recursos públicos destinados às exigências excludentes da FIFA devem apresentar volume e agilidade idênticos para solucionar os graves problemas nacionais, dentre eles do transporte coletivo e da violência urbana; que a porta de entrada do país no chamado “primeiro mundo” não se faça apenas pela porta dos superestádios, mas iguais e decentes portas de escolas e hospitais; que a luta e o sangue derramado no restabelecimento da democracia não se resuma ao voto para presidente, mas consolide uma democracia responsável onde, inclusive, a polícia de hoje seja radicalmente diferente da que se apresentava no período da ditadura; que se produza remédio social eficaz para a dupla doença que se fez endemia: corrupção e impunidade. Essa é a passagem que o grito das ruas está pedindo: passagem-direito e não passagem-dinheiro. 

Muitos são os sinais que as ruas estão emitindo, porém não menos são as indagações suscitadas: O advento das redes sociais e suas implicações estão colocando em cheque as velhas e rígidas formas de organização social? As categorias de análise tradicionalmente utilizadas darão conta de ler e interpretar os eventos e os fenômenos contemporâneos na forma que se colocam? Vamos torcer para que estejamos num daqueles momentos de ansiedade propositiva da história, onde o atrito social possa gerar muito mais luz do que calor e, assim, impulsionar um salto de qualidade na vida da nação.

Tudo isso faz lembrar um conto da obra de Antônio de Alcântara Machado, intitulado “Apólogo brasileiro sem véu de alegoria”. Uma surprendente anedota, ambientada na periferia de Belém, onde um cego lidera uma rebelião dentro do trem, por causa da falta de iluminação. Ao seu estilo, trata o autor dos defeitos atribuídos ao “caráter nacional”: preguiça, passividade, inconstância e tendência a transformar tudo em festa e anarquia. Protestar contra o preço da passagem gerou o calor que fez acender o estopim da necessidade imediata de controlar e reduzir o preço da passagem, como também estourar a bomba da vontade democrática comum. Para desconstruir os atributos preconceituosos do “caráter nacional”, aprofundar a democracia e protagonizar a história é necessário prosseguir lutando e se reinventar a cada dia."


[1] Gilton Ferreira é doutorando em História Social das Relações Políticas pela UFES e secretário de planejamento do município de Aracruz-ES.

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